Bolívia… e pensar que não queria ir

Eis que surge pelo facebook um convite inesperado para representar o Brasil em um evento de gastronomia na Bolívia. Em um primeiro momento aceitei rapidamente, mas com o passar dos dias e a vida corrida como sempre comecei a me questionar se valia mesmo à pena ir. O tempo passando e eu pensando.

O convite foi para dar três aulas, duas de figer food e uma sobre logística de Catering. Além disso, fazer juntamente com os outros chefs convidados dois jantares para 200 pessoas cada. Muito bem, comecei a pensar no meu cardápio e logo de cara pensei em mesclar ingredientes nacionais com ingredientes andinos. Cardápio pronto, vem a notícia: só poderia usar ingredientes de lá. Muito bem, então vamos estudar a Bolívia. Me mandei para uma feira que tem aqui em São Paulo, no Bairro do Pari, uma feira só de bolivianos. Adorei. Encontrei variedades de batata e de milho que nunca havia visto na vida, bebidas, empanadas, cores, sabores e pessoas simpáticas e sorridentes. Era o povo boliviano que mora em São Paulo, pessoas sofridas que trabalham muito e que aos domingos se reúnem para matar um pouco a saudade de sua terra natal. Aí, me abasteci de ingredientes andinos, tive a companhia do amigo João Carlos que foi comigo e me ajudou a descobrir um novo universo de ingredientes.
Comecei então a fazer testes no catering com os ingredientes que havia comprado. Além dos testes, comecei a estudar os costumes alimentares da Bolívia. Com a lista de insumos que teria à disposição lá, montei finalmente o meu cardápio para os jantares, nos quais teria de fazer uma entrada e um prato principal.
Três dias para a viagem e me decidi, com a ajuda do Barão, que me disse “você tem que ir”. E dos meus filhos, que me apoiaram e disseram “vá, que nós cuidamos de tudo aqui. Arrumei a mala e fui, de BOA. Sim, BOA = Bolívia Aerea.
Já no aeroporto de São Paulo encontrei um querido que não conhecia pessoalmente, mas que hoje é um amigo e tanto, o Alessandro Dirienzochef italiano que mora em Curitiba e que foi representando a Itália. A viagem foi de muita risada, pois falamos sem parar.
Chegamos a Cochabamba e fizemos conexão para Santa Cruz de La Sierra, onde seria o evento. Fomos recepcionados pelos organizadores, e por chefs que já haviam chegado lá, como Jesus Gibaja (México), Jose Luiz Dolaria (Chile) e Jose Carlos Chumba (Argentina).
No dia seguinte todos os chefs de cozinha já haviam chegado. Fomos aos poucos nos conhecendo e nos enturmando. O espaço onde o evento se realizou era grande e as coisas foram se adequando. Tínhamos ajudantes, estudantes de gastronomia de faculdades de lá, jovens com sede de conhecer novidade e com muita disposição para trabalhar.
Fiz amigos ali que espero levar pelo resto da vida, pessoas queridas de várias partes do mundo. Formamos um grupo unido e trabalhamos muito. Conhecer Ricardo Cortez (Bolívia), que eu já conhecia o trabalho, mas que me encantou pela pessoa maravilhosa que é; Paco Mico, espanhol louco como todos nós, nos encontramos em nossas cozinhas de detalhes e de muitas coisas em comum; Nati Andra (Argentina), uma querida que faz doces como poucos… Enfim todos que ali estavam tinham muito a me ensinar e espero ter deixado um pouco de meu trabalho e conhecimento com eles também.
As aulas foram sucesso, os jantares idem.
Meu cardápio para os jantares:
Entrada – Cebola assada com surubim feito no vácuo em baixa temperatura e servido com salsa de coentro e ovas de truta salmonada

Plato Fuerte – Polenta de maiz morada e guizo de lhama

Arrisquei-me no cardápio e acertei, fiquei muito feliz. Trabalhar com a carne de lhama, que nunca imaginei ter nas mãos, foi fantástico – uma carne clara, com aparência de uma vitela, adocicada, porém não com o sabor tão acentuado como das caças. A maiz morada também foi uma surpresa muito legal e foi uma extravagância fazer uma polenta com ela. Logicamente levei meu companheiro fiel, o Thermomix, e do grão inteiro da maiz se fez a polenta. E, além de linda, ficou divina.
Lá conheci lugares lindos, comi bem e me diverti muito. Fiz amigos e cozinhei muito, ensinei e aprendi. Mais uma vez agradeço a Deus trabalhar no que gosto e ter oportunidades como essa.
Agradeço ao povo boliviano e a organização do “Culinaria 2011” pelo convite. Espero em breve voltar.
Amei a Bolívia e suas cores todas.

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Paula Labaki

“Cozinho por amor, por prazer. Adoro ver as pessoas em volta da mesa, isso me faz feliz. Trabalho com isso. No meu catering, minha rotina é criar, executar e trabalhar muito. Por aqui passam aromas, sabores e vidas.”.

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